No quarto dele estavam fotos tuas na parede.
Entrámos envolvidos numa conversa qualquer que trouxémos lá de fora. Fiquei imediatamente com os olhos presos nas imagens de ti, nas paredes e na mesa de cabeceira. Nada naquele quarto tinha a força gravítica que aquelas representações da tua presença exerceram no meu olhar, não tive força para não olhar vezes incontáveis à medida que a noite passava e eles se entretiam com conversas nas quais já nem consegui pensar.
Tu a sorrir, agasalhada no inverno de um país qualquer, os olhos quase fechados e o queixo enterrado num cachecol verde escuro. Tu e ele sentados num banco de um jardim não sei onde, nem muito próximos nem muito separados, um equilíbrio que nunca quis invejar. E tu no carro numa viagem de verão; tu na praia e o teu pescoço tão nu que quase sinto o quão suave ele é. Ou ele era, porque já não sei quais dos tempos é suposto usar.
Numa parede, ainda tu e a tua mão segurando um cigarro. Como quis beijar a tua mão nesse momento, passar os lábios por entre os teus dedos ou a ponta dos meus dedos pelos teus lábios. Como as saudades me apertaram a consciência por cima das piadas que eles iam fazendo atrás de mim.
Então ele liga-te para combinar aquela coisa para sexta-feira à noite. Ouvi a tua voz distorcida pelo telemóvel e o seu volume quase no máximo. Deves ter perguntado com quem ele estava e ele disse os nossos nomes, os 4 nomes, um por um. O meu no fim mas sem qualquer intenção, e tu não reagiste. Simplesmente combinaste aquela coisa para sexta feira à noite. Eu passei a noite silenciado pela tua imagem espalhada naquele quarto, e não senti a tua voz tremer quando o meu nome soou na tua mente.
Eu sei, eu sei, que a minha voz nunca treme quando o teu nome ecoa em mim. Jogamos este estúpido jogo.
Ou talvez ande a jogá-lo sozinho.