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sábado, setembro 02, 2006

 

A minha lista de contactos do messenger, como sempre, dá-me vómitos.
Neste momento, está cheio de mensagens quase publicitárias com os sítios para onde cada uma das pessoas vai ou veio de férias. Pelo meio, as clássicas declarações de amor. Não sei desde quando o messenger se tornou um meio romântico de mostrar amor. Antigamente escreviam-se cartas e compravam-se flores. Agora mete-se no sub-nick (aquele em itálico) do messenger. Suponho que amor verdadeiro seja aquele que se poe mesmo no nick principal. E quando se tem uma foto do nosso significant other então, é casamento.
Dá-me vómitos.
E a moda nova, agora, apercebo-me, é escrever com pontos/apostrofos/asteriscos/nada em vez dos ífens. Ou seja "amo.te" ou "amu-te" ou "amo*te" ou "amote" ou "amo'te". Qual é a necessidade? De onde vem esta urgência juvenil em ser original e fazer as coisas diferentes!? E fazê-las diferentes em campos que não interessam para nada!
É verdade, eu ando às turras com este tema da auto-expressão que é mais tornarmo-nos espaço publicitário de características não-essenciais de nós próprios. Deixamos que falem por nós coisas que se prendem a uma superficie da nossa pessoa, e tudo me leva a crer que quanto mais as pessoas explodem em tais superficialidades (gosto musical, roupa que vestem, telemovel) e quanto mais se deixam definir por elas, menos são capazes de encontrar algo de realmente central e essencial nelas próprias. Resumindo: quando mais explodem, mais vazias são.
Desculpem se ofendo, mas isto afigura-se-me cada vez mais verdade. Não deve haver nada pior que reconhecer que somos superficiais e não temos nada cá dentro além de detalhes inimportantes (palavra inventada?). Ou reconhecer insconscientemente, pelo menos. Ou pelo menos procurar inconscientemente e, inconscientemente, nada encontrar. Porque se estivéssemos seguros do que somos, não passaríamos a vida a tentar prová-lo aos olhos de outros que nem nos conhecem, e dos quais não devíamos procurar aprovação. Porque, para mim, é por isso que colamos o noma da banda preferida na parte de trás da eastpack - para que outros nos aprovem.
Uma pessoa pode ser tanto mais que essas merdices. A felicidade e a plenitude não estão no telemóvel, nem no bronze fashion de verão, nem no boné da marca. E claro que toda a gente dirá, face a isto, "Oh claro que não, mas isso é óbvio" mas a verdade é que continuam a venerar estas coisas como se elas fossem a resposta. É normal, pois é essa a filosofia que nos circunda. É essa a mensagem que nos rodeia por todo o lado. Eventualmente, acaba por nos ser introduzida na mente e passamos a acreditar nela. De facto, a maneira como esta mensagem é passada é ridícula, baixa e indecente. Se virmos um anuncio a um produto fashion dirigido a jovens, mas se VIRMOS mesmo o anuncio em vez de deixá-lo atravessar passivamente a nossa vista (que é o que se faz quando se vê TV), percebemos que se trata apenas de um monte de técnicas rascas para nos fazer pensar algo que dará muito dinheiro a alguém. O modo como nos convencem que certas coisas (materials, mostly) são importantes na vida é, na verdade, muito óbvio e rasco. Nem sequer são maneiras elaboradas de enganar o nosso intelecto. Mas a quantidade é tanta, mas tanta tanta tanta, que eventualmente tem efeito.
Claro que não precisamos do telemóvel 3G. Mas, de acordo com a TMN, ter um telemovel daqueles que eles vendem, é ter uma vida cheia de experiências únicas e emocionantes em que descobrimos o significado da existência e nos tornamos unos com o universo. Acham que estou a exagerar? Vejam os anúncios. VEJAM os anuncios.
E se ainda não acreditarem, pensem nos morangos com açucar. Não vou relatar tudo o que acho detestável nessa série porque, além de não me calar, muitos outros fizeram-no com argumentos de merda e por mais que eu ache que os argumentos que tenho sejam legítimos, já estamos todos fartos de ouvir falar mal dos morangos. Tive a minha hipótese quando isso ainda era da moda e fiquei calado. Paciência, vejam com atenção, deve chegar.

Enfim, mas de volta ao messenger. Como disse, um nickname tornou-se um espaço publicitário para a nossa própria pessoa. Uma frase que podemos mostrar aos outros quando, no fundo, os outros não querem realmente saber de nós. E quando querem, é só aparência (ok se acreditam em real amizade já sei que discordam, e bom para vocês).
Portanto olho para a minha lista de contactos e revolto-me porque vejo a minha geração a ficar aquém do que podia ser. Vejo-nos perdidos em idiotices e detalhes menores que não são aquilo onde a vida realmente se define.
É arriscado falar assim dos limites onde a vida se define. Porque provavelmente não sei exactamente quais são todos eles. Contento-me, porém, ao reparar que sei que não é o meu telemóvel, o meu boné, o meu bronzeado, a música que ouço, a minha roupa, nem deixar que toda a gente veja o quanto amo a minha companheira. Não que seja inocente: reconheço o impulso que motiva tais públicas declarações e não lhe fui sempre alheio. Mas aprendi a amar para mim mesmo e para o outro e, uau, acabou por ser bastante suficiente! É uma lição, I guess.
Ou talvez esteja a dizer merda desde o principio...
Não me cabe a mim decidir, certo? O que é merda para uns podem ser verdades absolutas para outros.

Comentários:
Pela terceira estou a tentar comentar o que escreveste.
Já estive para te elogiar, mas iria repetir-te e tu não precisas da minha aprovação. Já estive para tentar justificar esta cegueira generalizada, mas na verdade não há grandes argumentos que a justifiquem. Já estive também para defender a publicidade, mas eu sei bem que a publicidade na maior parte das vezes só promove a superficialidade, logo, não há grande defesa.
No fim, acho que me fico por te dizer que bombardeados como somos, manter a objectividade é difícil. Quando damos por nós já estamos a escorregar.
Mas tu consegues. Ao menos que exista alguém atento, sim porque do que conheço de ti, sei que as tuas palavras são coerentes com as atitudes. A maioria de nós não seria coerente. Eu não seria coerente.

Mas para acabar com um toque de alegria... temos que fazer uma viagem ao "coelhinho diabético":P

sunny*
 
you go girl!

ren
 
Tenho pensado em pôr à venda o "meu espaço em itálico do msn" para esse tipo de declarações.

Sim, realmente as flores e as cartas têm muito mais significado :)
Flores, onde é que andam?! Não sei o que é isso...

Em relação ao resto, acho que é bem verdade, as pessoas são muito susceptíveis. Porém, eu incluo-me nessa parte.
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Já pensaste que a problemática dos "nicks" que vão aparecendo na tua lista de contactos talvez esteja relacionada com a rede social em que te inseres?

A minha lista de contactos está livre de qualquer verborreia acéfala semelhante às que descreves.

Provavelmente devias pensar em começar a conhecer outras pessoas.
 
Antes de mais, quero que saibas que não apreciei de todo o local onde deixaste a resposta ao meu comentário. Respondeste publicamente mas fora de qualquer tipo de contexto, o que retira simplesmente qualquer cabimento às tuas palavras.

O sítio ideal seria aqui mesmo, para que os eventuais interessados pudessem acompanhar a discussão. Ou como último recurso podias enviar a resposta por e-mail, o que estranhamente dizes "não ter conseguido" fazer desta vez, depois de o teres feito pelo menos duas vezes anteriormente sem qualquer dificuldade.

Mas adiante.

Na minha curta reflexão sobre o teu post não digo que devas descartar as pessoas que conheces e tens na lista de contactos. Pensei-o, é verdade, mas tive o cuidado de não o escrever. Ficou no entanto claro pela tua resposta que para ti, conhecer pessoas novas implica cortar relações com as que já conheces. Esta filosofia parece-me à primeira vista francamente má, pois ou não se conhecem pessoas novas ou não se mantêm relações duradouras.

Por outro lado surpreendo-me ao ver que defendes as "pessoas do Messenger" tão acerrimamente, isto no seguimento de passagens deste calibre (e passo a citar): "Como disse, um nickname tornou-se [...] uma frase que podemos mostrar aos outros quando, no fundo, os outros não querem realmente saber de nós. E quando querem, é só aparência (ok se acreditam em real amizade já sei que discordam, e bom para vocês)".

Finalmente, se há coisa que aprecio no que escreves é a ironia mordaz com que atacas quem calha. Observo no entanto que não pareces reagir da forma mais tranquila caso alguma dessa mesma ironia faça ricochete e te seja dirigida.

No fundo, tudo isto para clarificar que não era suposto levares o meu comentário tão a sério. Tal como nem tudo o que escreves é real, também nem tudo o que lês deve ser levado (tão) à letra.
 
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