A minha lista de contactos do messenger, como sempre, dá-me vómitos.
Neste momento, está cheio de mensagens quase publicitárias com os sítios para onde cada uma das pessoas vai ou veio de férias. Pelo meio, as clássicas declarações de amor. Não sei desde quando o messenger se tornou um meio romântico de mostrar amor. Antigamente escreviam-se cartas e compravam-se flores. Agora mete-se no sub-nick (aquele em itálico) do messenger. Suponho que amor verdadeiro seja aquele que se poe mesmo no nick principal. E quando se tem uma foto do nosso significant other então, é casamento.
Dá-me vómitos.
E a moda nova, agora, apercebo-me, é escrever com pontos/apostrofos/asteriscos/nada em vez dos ífens. Ou seja "amo.te" ou "amu-te" ou "amo*te" ou "amote" ou "amo'te". Qual é a necessidade? De onde vem esta urgência juvenil em ser original e fazer as coisas diferentes!? E fazê-las diferentes em campos que não interessam para nada!
É verdade, eu ando às turras com este tema da auto-expressão que é mais tornarmo-nos espaço publicitário de características não-essenciais de nós próprios. Deixamos que falem por nós coisas que se prendem a uma superficie da nossa pessoa, e tudo me leva a crer que quanto mais as pessoas explodem em tais superficialidades (gosto musical, roupa que vestem, telemovel) e quanto mais se deixam definir por elas, menos são capazes de encontrar algo de realmente central e essencial nelas próprias. Resumindo: quando mais explodem, mais vazias são.
Desculpem se ofendo, mas isto afigura-se-me cada vez mais verdade. Não deve haver nada pior que reconhecer que somos superficiais e não temos nada cá dentro além de detalhes inimportantes (palavra inventada?). Ou reconhecer insconscientemente, pelo menos. Ou pelo menos procurar inconscientemente e, inconscientemente, nada encontrar. Porque se estivéssemos seguros do que somos, não passaríamos a vida a tentar prová-lo aos olhos de outros que nem nos conhecem, e dos quais não devíamos procurar aprovação. Porque, para mim, é por isso que colamos o noma da banda preferida na parte de trás da eastpack - para que outros nos aprovem.
Uma pessoa pode ser tanto mais que essas merdices. A felicidade e a plenitude não estão no telemóvel, nem no bronze fashion de verão, nem no boné da marca. E claro que toda a gente dirá, face a isto, "Oh claro que não, mas isso é óbvio" mas a verdade é que continuam a venerar estas coisas como se elas fossem a resposta. É normal, pois é essa a filosofia que nos circunda. É essa a mensagem que nos rodeia por todo o lado. Eventualmente, acaba por nos ser introduzida na mente e passamos a acreditar nela. De facto, a maneira como esta mensagem é passada é ridícula, baixa e indecente. Se virmos um anuncio a um produto fashion dirigido a jovens, mas se VIRMOS mesmo o anuncio em vez de deixá-lo atravessar passivamente a nossa vista (que é o que se faz quando se vê TV), percebemos que se trata apenas de um monte de técnicas rascas para nos fazer pensar algo que dará muito dinheiro a alguém. O modo como nos convencem que certas coisas (materials, mostly) são importantes na vida é, na verdade, muito óbvio e rasco. Nem sequer são maneiras elaboradas de enganar o nosso intelecto. Mas a quantidade é tanta, mas tanta tanta tanta, que eventualmente tem efeito.
Claro que não precisamos do telemóvel 3G. Mas, de acordo com a TMN, ter um telemovel daqueles que eles vendem, é ter uma vida cheia de experiências únicas e emocionantes em que descobrimos o significado da existência e nos tornamos unos com o universo. Acham que estou a exagerar? Vejam os anúncios. VEJAM os anuncios.
E se ainda não acreditarem, pensem nos morangos com açucar. Não vou relatar tudo o que acho detestável nessa série porque, além de não me calar, muitos outros fizeram-no com argumentos de merda e por mais que eu ache que os argumentos que tenho sejam legítimos, já estamos todos fartos de ouvir falar mal dos morangos. Tive a minha hipótese quando isso ainda era da moda e fiquei calado. Paciência, vejam com atenção, deve chegar.
Enfim, mas de volta ao messenger. Como disse, um nickname tornou-se um espaço publicitário para a nossa própria pessoa. Uma frase que podemos mostrar aos outros quando, no fundo, os outros não querem realmente saber de nós. E quando querem, é só aparência (ok se acreditam em real amizade já sei que discordam, e bom para vocês).
Portanto olho para a minha lista de contactos e revolto-me porque vejo a minha geração a ficar aquém do que podia ser. Vejo-nos perdidos em idiotices e detalhes menores que não são aquilo onde a vida realmente se define.
É arriscado falar assim dos limites onde a vida se define. Porque provavelmente não sei exactamente quais são todos eles. Contento-me, porém, ao reparar que sei que não é o meu telemóvel, o meu boné, o meu bronzeado, a música que ouço, a minha roupa, nem deixar que toda a gente veja o quanto amo a minha companheira. Não que seja inocente: reconheço o impulso que motiva tais públicas declarações e não lhe fui sempre alheio. Mas aprendi a amar para mim mesmo e para o outro e, uau, acabou por ser bastante suficiente! É uma lição, I guess.
Ou talvez esteja a dizer merda desde o principio...
Não me cabe a mim decidir, certo? O que é merda para uns podem ser verdades absolutas para outros.