Auto-afirmação, não sei porquê, tornou-se uma febre. Uma condição do existir hoje em dia. Tornou-se uma auto-imposição de nós próprios. Temos sempre que estar a derramar-nos para cima de toda a gente, a vomitar-nos na cara dos outros, senão já não nos sentimos bem.
Infelizmente, temos uma ideia completamente errada do que são as coisas que nos representam. Pensamos que nos definimos por beber e fumar, por ouvir banda X e Y.
A música é uma das principais coisas que gostamos de pensar que nos definem. Hoje em dia, cada banda ou estilo de música funciona como uma listagem de valores ou um sistem de atitudes ao qual subscrevemos, com a qual assinamos um contrato que diz que determinado estilo musical nos representa totalmente. Ao estamparmos um monte de bandas Hardcore na bolsa da mochila e nas t-shirts que usamos, estamos a deixar (por vontade própria) que estas bandas falem por nós, que nos definam e sejam os nossos embaixadores.
Perguntem a alguém: "Fala-me de ti" e alguém começará assim: "Curto Green Day, Slipknot, etc etc".
Eu não acredito que isto defina alguém, mas essa não parece ser a crença comum, porque a música é um dos factores mais considerados no que diz respeito ao traçar da nossa personalidade. Basta vermos um dos milhões de
profiles de cada pessoa que conhecemos que andam na net.
Estes profiles merecem um parágrafo só para si, porque são uma das maiores evidências da preocupação maioritariamente juvenil em se auto-afirmar acima de tudo. Falo nomeadamente de Hi5, MySpace, Orkut, entre outros que, diferindo num ou noutro detalhe (o MySpace permite ter uma música a tocar, o ZEBO tem um sistema de classificação de amigos que, de acordo com o publicitado, nos permite ver quem é realmente nosso amigo), oferecem todos o mesmo - a oportunidade de falarmos de nós, das coisas que gostamos ou não, da música que ouvimos (porque, lá está, achamos que isso nos define), uma oportunidade de pormos fotografias de nós próprios para que outros possam ver o quanto bem ficámos naquele ou no outro momento.
Estes sites vendem, no fundo, a oportunidade de exercitarmos exibicionismo. A oportunidade para expandir o nosso
eu para cima dos outros - uma actividade prioritária na sociedade de hoje.
Justificado por imensos motivos, isto acontece não só por julgarmos que são estas as coisas que nos definem, mas por vivermos sob a convicção (imposta) de que se não nos expressarmos, não existimos. E serão estranhos aqueles que encontrarem uma maneira de ser que não signifique forçar a sua imagem aos olhos dos outros, que não implique uma explosão barulhenta das bandas que goste ou das opiniões sobre tudo.
Pior que este fenómeno de auto-afirmação imperativa, é o fenómeno de onde este primeiro advém: a falsa impressão de superioridade.
Deixo-o para mais tarde. Agora tenho que ir criar um filtro no GMail para a palavra ZEBO.