A coisa mais divertida que me aconteceu em todo o dia de hoje foi ler as seguintes passagens:
"Depois, levantam-se e continuam o passeio. Uma grande lua sai da espessura vegetal. Vincent olha para Julie e, de súbito, ei-lo enfeitiçado: a luz branca conferiu à rapariga a beleza de uma fada, uma beleza que o surpreende, beleza nova que de início ele não vira nela, beleza fina, frágil, casta, inacessível. E, de repente, sem saber sequer como foi que a coisa aconteceu, põe-se a imaginar-lhe o olho do cu. Bruscamente, inopinadamemente, a imagem ali está e ele já não pode afastá-la de novo.
(...)
Vincent enlaça Julie, beija-a, apalpa-lhe os seios, contempla a sua delicada beleza de fada e, entretanto, sem parar, imagina-lhe o olho do cu. Está com uma vontade imensa de lhe dizer: «Estou a fazer-te festas nos seios mas só penso no teu olho do cu.» Mas não consegue, a frase não lhe sai da boca para fora. Quanto mais pensa no olho do cu dela, mais Julie se torna branca, transparente e angélica, de tal maneira que se transforma numa impossibilidade proferir semelhantes palavras em voz alta.
(...)
Situação difícil aquela em que só podemos falar de uma coisa e em que ao mesmo tempo não estamos em condições de falardela: o olho do cu improferido fica na boca de Vincent como uma mordaça que o emudece. Olha para o céu como se nele buscasse socorro. E o céu acode-lhe: envia-lhe a inspiração poética; Vincent exclama: «Olha!» e faz um gesto na direcção da lua. «É como um olho do cu rasgado no céu!»
Vira para Julie o olhar. Transparente e meiga, ela sorri e diz: «Sim», porque há uma hora já que está disposta a admirar seja o que for que ele diga.
Vincent ouve o «sim» dela e tem vontade de mais. Julie tem um ar casto de fada e ele gostava de a ouvir dizer: « o olho do cu». Deseja ver aquela boca de fada pronunciar essas palavras, oh, como o deseja! Gostava de lhe dizer: repete comigo, o olho do cu, o olho do cu, o olho do cu, mas não se atreve. Em vez disso, caindo na armadilha da sua própria eloquência, atola-se cada vez mais na metáfora: «O olho do cu de onde sai uma luz macilenta que enche as entranhas do universo!» E estente o braço na direcção da lua: «Para a frente, pelo olho do cu do infinito dentro!»"
Além deste feliz momento, o comboio parou 15 minutos no Pragal "por motivo de súbita doença de um passageiro". Chegado a Lisboa, a circulação na linha azul estrava "interrompida por motivos alheios ao metropolitano" (a.k.a. alguém se suicidou e decidiu atrasar a vida de alguns robôs). Vinte e cinco minutos de espera.
De volta para casa, o autocarro demorou-se tanto no trânsito das 7 da tarde que perdi o comboio para Setúbal e tive que esperar meia hora pelo seguinte.
Gr9! (que é o imediatamente superior de gr8 [Great!]).
Ah, adivinhem qual era o livro.