As coisas que pensamos que nos distinguem já não nos distinguem de todo. Estar sentado num sítio público a escrever num caderno, já não é aquela coisa alternativa porque hoje toda a gente escreve. Ninguém passa pela adolescência sem escrever qualquer coisa de artístico que acha muit bom. Ninguém não pensa "Quem sabe..." sobre um dia ter algo publicado. Toda a gente escreve, é verdade, e toda a gente acha que escrever é algo muito alternativo e místico e que implica uma grande profundidade de espírito e etc. Nem tenho bem a certeza do efeito terapêutico de escrever.
Para além disso, toda a gente faz fotografia. E toda a gente faz fotografia como se o fizesse fazendo parte de um pequeno grupo que faz fotografia. Acredito que isto se deva muito ao aparecimento de máquinas digitais ao alcance de qualquer um.
Toda a gente percebe de tudo, também. Pior que isso, toda a gente insiste em despejar tudo o que sabe. Se for algo que o outro não saiba, melhor ainda. O pessoal gosta de pintura e despeja logo os fundamentos do movimento cubista e a vida dos grandes pintores. Andam num curso de medicina, e passam a vida a impingir o seu conhecimento sobre o corpo humano. Tudo é desculpa.
Já todos leram todos os livros, também. São todos artísticos, políticos, literários, cultos.