Acho que adoro todos os filmes de
Hayao Miyazaki. Só acho, porque não vi todos (de facto só vi os 3 mais conhecidos) mas a coerência em todos os que vi permite-me arriscar uma dedução. E se há algo que aprecio num artista é a coerência, esta maneira de ser ele próprio em tudo o que faz ao longo do tempo. Mudar é um risco muito grande. Nem sempre é favorável.
Acho todos os filmes de Hayao Miyazaki muito bonitos. Primeiro gosto do típico desenho animado japonês. E depois gosto dos meios retratados. Até aqui, nos 3 filmes que vi, a acção passa-se em ambientes que colocamos automaticamente no passado. Não sei se isto é válido porque é óbvio que a realidade em que as coisas se passam nos filmes não é a mesma que a nossa. É, certamente, menos evoluída mas não é aí que é diferente. Tanto em
Princess Mononoke, como em
Spirited Away (A Viagem de Chihiro), como no mais recente
Howl's Moving Castle a magia, os feiticeiros e os espíritos são coisas banais. Não é aquele tipo de magia à Harry Potter, que eu acho que sofre de uma tremenda falta de encanto e originalidade - é algo com mais classe, algo mais sublime, menos óbvio. Mais inédito e, por tudo isso, com muito mais valor. E muito mais agradável. Resta-me saber se este tipo de ambientes são obra do director Hayao Miyazaki ou são típicos de toda a cena artística japonesa (e neste caso só é novidade para mim porque não sou japonês).
A grande diferença é que, por exemplo, quando vejo um filme de Harry Potter, sinto que tudo se passa numa realidade sem qualquer tipo de regras. A magia é algo que faz o impossível, algo sem limites, sem regras e, consequentemente, sem sentido. Uma das coisas que gosto nos 3 filmes de Hayao Miyazaki que vi, é que, embora a dimensão do mágico me seja totalmente imprevisível e desconhecida, sinto que tudo segue uma certa lógica. Em vez de não haver regras e coerência no mundo mágico, há directivas que eu simplesmente não entendo logo à partida mas que vou absorvendo (às vezes até sem ter uma consciência excessiva disso) ao longo do filme. Há portanto um envolvimento progressivo da minha parte com o filme, o mundo ali apresentado e as regras que o regem.
Resumindo: todo o mundo do filme é coerente. A magia é suposta, é normal. As coisas que achamos estranhas são regras básicas. As leis do mundo mágico são umas quantas e são universais.
E, como já disse, é por causa disto que não sou grande fã de Harry Potter. Não consigo perceber exactamente até onde é que se pode ir fazer o impossível. Até porque conjuga duas realidades diferentes. A normal e aquela onde ele vai à escola e etc. E depois andam a fazer feitiços no mundo normal também... e os feitiços têm nomes tipo
wingardium leviosa. Alguém deve ter pensado "Ok, qual é o nome mais ÓBVIO possível para um feitiço que levita coisas, tendo em conta as palavras WING e LEVITATE?". Eu pelo menos teria pensado exactamente em
wingardium leviosa.
Bom mas isto não é um post para falar mal de Harry Potter. Conheço pessoas que fariam isso muito melhor que eu. Admito que não li mais que o primeiro livro e que não posso falar muito.
Não sei se os filmes de Hayao Miyazaki me agradam tanto porque são uma espécie de escape ao meu meio envolvente. De facto, as civilizações, sendo menos desenvolvidas, mais rurais, mantêm algo de uma vida mais pura e saudável. Especialmente em
Princess Mononoke, em que o respeito pela natureza (como condição para a vida em paz de humanos e animais) é a principal mensagem.
Tudo isto me apaixona. Sim, é possível que ver estes filmes seja um escape do real onde vivo.
Ao acabar de ver
Princess Mononoke, veio-me à mente um pensamento que ando a ter nos úlimos dias: o mundo deve ter sido, em tempos, um sítio lindíssimo. Não que hoje ignore a beleza imensa nas várias coisas. Mas vejo-a latejante, como as minhas dores de cabeça. Vejo-a por momentos que reconheço muito valiosos, mas que não deixam de ser momentos quase invisíveis de tão breves serem.
Se tivéssemos, desde sempre, mantido um respeito pela natureza, muitos sentir-se-iam mais motivados para viver. Penso que a vida faria mais sentido se não fossemos tanto um polo de energia negativa e destruição de tudo aquilo que tocamos.