Reli o blogue desde o primeiro post. Já referi uma das vantagens de ter má memória: posso voltar a rir-me imenso com coisas que escrevi há muitos meses, coisas que quase já esqueci.
O facto é que ri mesmo muito a ler posts antigos e, ao ler alguns comentários, percebi que quase nunca as pessoas acharam tanta piada quanto eu. Para ser sincero, raros foram os que demonstraram ter realmente atingido aquele detalhe essencial que mostra o cómico da situação.
Reparei que maior parte das vezes os posts são lidos com o mínimo de atenção, e que grande parte dos bloggers que por aí circulam com as suas caras de gafanhoto (hoje apetece-me que tenham cara de gafanhoto) nunca vão perceber a intenção com que colo as palavras umas às outras. Porque estão demasiado preocupados em aproveitar a oportunidade quem têm para falar para me dar palavras de coragem em relação a um problema que mal denominei e cujas dimensões desconhecem completamente.
Mas nem sempre são assim tão solidários. Às vezes preferem mostrar que têm algo interessante para dizer, algo mais interessante que os outros que escreveram aqueles comentários abaixo, e lá despejam uma filosofia cliché sobre a vida e a existência.
Com alguma atenção, descobrimos um ou outro que apanhou genes dos dois tipos referidos acima, e andam aí a dar uma de psicólogo-amigo-sábio-filósofo, misturando conselhos inúteis, vagos e gastos, com filosofia barata. Imaginemos que eu escrevia um texto assim em tom objectivo de ensaio sobre a vida e a morte. O psicólogo-amigo-sábio-filósofo diria "Não há maneira de escapar à morte, temos é que continuar a sonhar, sonhar é viver!". Perfeita junção de a) informação repetidíssima que quase soa a inteligente; b) conselho inútil, gasto, vago, quando nem sequer expressei um problema pessoal (hello, nem todos gostamos de colar aqui explicitamente os nossos problemas!); c) a afirmação cliché.
O anonimato traz ao de cima o pior das pessoas. Numa multidão, um tipo atira uma pedra ao político. Se estivesse sozinho no recinto, não o faria. O anonimato traz ao de cima o pior das pessoas. E a internet não é excepção. Com isto chegamos àquele tipo de comentador que anda constantemente alerta à procura de qualquer coisa que possa censurar nos outros. Qualquer hipótese de lhe dizer "Tu estás errado! Eu sou a suprema maneira de ser e estar! Tu estás mal! Vai ver o meu blogue, essa divina bíblia da rectidão!". Agora apetece-me dar um parágrafo, com licença.
Estes últimos integram uma corrente caracterizada pelo criticar aqueles que criticam demais, que criticam mal e nem olham para eles próprios. Mas foi levado ao extremo, e agora acusam simplesmente todos os que fazem a mínima crítica, seja ela boa ou má. Face a um juizo de outro ser humano, podemos tentar ver o ponto de vista dele, entender as suas palavras, sentir o que ele sentiu. Ou automaticamente dizer uma foleirada variante de "se calhar o problema é de quem vê!". Estes comentadores "caçadores furtivos da imperfeição humana" nem imaginam a primeira hipótese. Eles são perfeitos. Eles apontam, dizem "Tu estás mal, sê como eu! Supra sumo do bem e do correcto! Do como-deve-ser!".
Há mais, mais tipos de comentários e de comentadores. Os que querem as visitas, os que querem gajas, os que querem ambos... Os simples, os huu-olha-que-misterioso-que-sou, os que escrevem um autêntico post num comentário para mostrarem logo ali o quanto bem sabem escrever... As categorias são incontáveis.
É por tudo isto que escrevi acima que, na maior parte do tempo, me sinto feliz por ter tão poucos comentários. Mas tenho a certeza que alguém vai ali clicar onde diz "0 opiniões" para me dizer que "Talvez o problema seja de quem vê". Ok agora talvez não porque acabei de dizer isto... Mas alguém vai achar que fui arrogante, que não tenho o direito de criticar assim os outros, que bla bla bla, esquecendo-se convinientemente que de facto há pessoas assim, como as que referi, que não fui eu quem as inventei. Não é preciso procurar muito. Alguém vai ler isto e não vai saber distinguir este desabafo (este reparo) de uma crítica ofensiva. Alguém vai achar que tenho "a mania que sou superior" quando não tem nada, nada, nada a ver. Alguém leu com o mínimo possível de atenção.