O que me chateia no tempo é que seja totalmente independente de mim. É mais ou menos o mesmo que me chateia nas pessoas - o tempo é demasiado importante para mim, e eu sou nada para ele. Se eu precisar, o tempo não espera por mim: a minha urgência é irrelevante, e não interessa o quanto eu precise de tempo, o tempo não precisa de mim. Nem de ninguém, é o maior vilão de todos os tempos: frio e implacável, sem remorsos nem misericórdia. Pior que o
Exterminador Implacável, pior que
HAL, pior que a
enfermeira Ratched.
Para mim é aflitivo que o tempo não ceda e não pare, que avance por cima da vida que vamos construindo no seu leito sem termos nunca uma segunda oportunidade. O que está feito, está feito e não vale a pena contar com o tempo para nos ajudar. "Se querias ter feito melhor, se queres uma segunda oportunidade... bom, então vai sentar-te e chora. Porque o que perdeste já está perdido. E o que desperdiçaste já está desperdiçado." É isto que o tempo nos diz, e diz-nos na cara, com indiferença e crueldade. Diz-nos isto sempre que nos arrependemos, diz-nos isto quando pensámos o quando podíamos ter aproveitado melhor o dia. A mim ensina-me isto sempre que relembro uma má memória.