A Rita é uma ex-amiga, uma actual conhecida. Não sei bem o que a Rita é, mas a Rita é muito simpática. É alta, é da altura em que estudei no liceu e era a amiga de uma minha amiga antes de ser amiga minha. Enfim, amiga amiga não posso dizer que alguma vez foi. No máximo, em potência. Mas o que interessa é que, como não era minha amiga no total sentido da palavra (porque desses que justificam a definição da palavra temos sempre poucos, e é também gradualmente que nos apercebemos disto, infelizmente), e como mudei tanto de escola como de cidade, nunca mais vi a Rita. Não é que isto seja mau, a Rita era só uma amiga de uma amiga, não me deu propriamente saudades nem me passou pela cabeça durante longos meses. Mas um dia encontrei-a nessa segunda cidade para onde fui e, pelos vistos, tínhamos uma pessoa em comum que, sendo um quase amigo meu, era um familiar dela. Foi giro, a Rita é uma pessoa que sempre gostei de ver porque, como disse, é extremamente simpática. Não só no que diz mas no como diz, no como está e na expressão que faz quando me vê. Há pessoas definitivamente boas de encontrar. Escrevo isto porque encontrei a Rita no caminho para comprar pão e, como sempre, gostei de a encontrar. Voltou a ser simpática. Mas estava sentada numa mesa com mais duas senhoras e decidi não parar nem dar-me aos beijinhos. Afinal estava acompanhada, em plena conversa, sentada e eu de pé, não pareceu muito propositado nem funcional que eu parasse ali e lhe desse dois beijinhos sabendo perfeitamente que não tinha nada de relevante para dizer (como ela provavelmente não teria nada de relevante para me dizer a mim). Além de que teria que olhar directamente para as outras duas senhoras que estavam com ela, teria que emitir qualquer sinal de "boa tarde" ou "olá", uma coisa assim atrofiada entre o gesto e a palavra e o sorriso falso. E depois teria que ter toda a conversa de ocasião com a Rita em frente a essas duas pessoas. Conversa de ocasião é mau, seu sei. Mas com a Rita não. Com ela é agradável, deixa-me um sorriso na cara e vontade de a encontrar mais uma vez um dia mesmo que não passemos dessa conversa de ocasião. A Rita é uma pessoa que me dá vontade de ser simpático com. Talvez lhe tivesse dito "Não queres vir ao cinema logo à noite?" porque de facto vou e vou ver um filme bom que tenho a certeza que ela gostaria. Eu não a conheço nem sei de que filmes a Rita gosta, mas acontece que
aquele é mesmo bom. Infelizmente, convidar a Rita para ir comigo ao cinema (e com
outro amigo que também foi comigo, e que apanharia uma surpresa porque não saberia de nada. De facto, deve estar a aperceber-se disso agora enquanto lê o blog) implicava que ela pensasse que eu estava talvez tentar ganhar o interesse dela em mim. Não sei porque é que ela pensaria isso mas é um facto que é realmente esse tipo de coisas que as pessoas pensam. E eu não quero que a Rita pense isso. A Rita é uma pessoa realmente simpática que eu gosto muito de encontrar. E garanto-vos: eu não gosto lá muito de encontrar pessoas conhecidas.
Não sei se a Rita tem um blog. Eu não a vejo tendo um. Eu não a vejo dedicada a estas coisas e tenho a certeza que não virá ler este. A Rita nunca saberá que estive aqui a escrever publicamente sobre ela. Faz-me pensar no motivo de ter escrito.