"Eu sou as minhas recordações, e portanto, o que não recordo não sou eu."
Quando era criança, arrastava as torradas ao longo de todo o chão da cozinha. Seguidamente, não hesitava em comê-las. Recordo isto com ternura, a ternura com que recordo provavelmente toda a minha infância que ainda não se perdeu no desgaste da memória. Para além disso, é a mesma ternura que nutro por toda a infância que já não consigo recordar. Igualmente, não só tenho saudades de toda a infância que recordo como tenho saudades daquela que não recordo. Tenho saudades da infância, ponto final.
Cresci, entretanto. Porém, não sei se crescer é um sinónimo de mudar ou se de alguma forma o primeiro conceito implica o segundo. Não sei se nalgum momento deixámos de ser crianças. Olho para mim e sei que não. Lembro-me das torradas no chão da cozinha, reconheço que ainda o sou. Reprimido, sim. Preso, sim. Com o mesmo impulso, sim. Diferente? Não. Mas olho à volta e parece-me que sim, que as pessoas crescem e que algures nesse processo elas mudam. Algures nesse processo, cedem ao enterro cruel de uma criança viva, amputam de si as leis que num contexto foram livres e agora seriam loucas. Isto de facto acontece. A prova é eu, face a esta situação, após ter escrito isto, sentir que talvez o mundo não funcionasse de outro modo.
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